Nossos amigos os sabotadores
- Daniela Abarca
- 24 de jan. de 2019
- 3 min de leitura

A primeira vez que ouvi este termo foi na minha formação como Coach, lá estudávamos que os sabotadores, embora me refira a eles em terceira pessoa, eram porções nossas que agiam de forma a nos proteger de possíveis dores e riscos. Por vezes agem de forma escancarada, no entanto, na maior parte do tempo atua de forma silenciosa. Inconsciente é pura sensação, ao menor risco de sofrimento nos impele a recuar.
Todos nós temos nossos amigos sabotadores, ao voltar para a Psicanálise voltei a conversar com eles agora sobre outro prisma, tratando-os de fato como sendo uma ação do inconsciente sobre nosso cotidiano. Exemplificando talvez possamos analisa-lo com maior clareza.
Pensemos em uma garota que passou boa parte de sua adolescência permitindo-se os maiores prazeres ali a seu dispor, festas diárias, bebidas alcóolicas em excesso e sexo, muito sexo, com muitas pessoas diferentes. Nesta fase a pleno vapor estava o sabotador Eros (nomeá-los facilita a comunicação). Anos depois, nos dias de hoje, conduz sua vida com extremo rigor não se permitindo (a priori) desfrutar de nenhum momento de alegria, ou mesmo expressão de suas vontades. Afirma viver a repetir ao mundo a frase, “ok, pode ser”, aqui entra em ação outro sabotador o Censor.
Esta porção de si atua como um guarda bastante rígido que a pune duramente sobre o estilo de vida que se permitia ter, ela confirma que convive com intensa culpa por não ter sido uma boa filha, por ter desiludido sua mãe acerca da filha que era e outros comentários não menos depreciadores a seu respeito. O que talvez ela não tenha se dado conta é que não vive uma vida isenta de prazeres como conta e acredita. Transfere agora a fonte dos prazeres para o suplício, sofrer, negar a si mesma alguns regalos contrariamente lhe gera algum tipo de satisfação. Enxerga a si mesma como uma pecadora culpada, mas mostra ao mundo a faceta da resignação e do martírio na esperança de ser acolhida, admirada e amada. E então nos é apresentado a Atriz.
Existe um longo caminho a percorrer que necessariamente deve passar pelo equilíbrio, entre o 8 e o 80 existem dezenas de possibilidades. O funcionamento do tudo ou nada pode nos levar dia-a-dia para uma relação sufocante, inviável pelo menos se almejarmos um mínimo de qualidade de vida. Parece-me antes de qualquer coisa estar ligado a intolerância para lidar com os limites impostos também pela vida social, que nos dita o que podemos ou não fazer para se viver na comunidade, bem próprio aliás de algumas crianças que birram e se jogam no chão clamando terem seus desejos satisfeitos pelo adulto.
Pois bem, como diz o ditado popular, nem tanto ao mar nem tanto a terra, é necessário que o adulto que habita em nós possa se dispor a conversar com estes sabotadores/crianças todas e que acordos possam ser firmados no sentido de entender do que supostamente estão querendo - com sua visão limitada - proteger ou proporcionar enquanto vivência. O que não funciona é ignorarmos que existem dentro de nós muitas vontades, fingir não possuirmos ímpetos que são regidos pelo inconsciente em busca de prazer e se sentenciar a uma vida fria, cinza sem alegria, mas repleta de deveres e afazeres.
A ação do inconsciente/sabotador deflagra muitas vezes nossas carências, as quais podemos tornar consciente acordando se e quando poderão ser satisfeitas para que sejamos de fato mais felizes mais inteiros permitindo que estas instâncias operem dentro de nós de forma mais harmoniosa gerando bem-estar e quem sabe a tão sonhada felicidade.
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