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Série: Como é mesmo que se dança? A verdade que é minha. O que é

  • Daniela Abarca
  • 10 de out. de 2018
  • 4 min de leitura


Para escrever o terceiro post da série um acontecimento cotidiano me impulsionou fortemente: a crença de que há uma única verdade e que é esta que deve valer a todos.


No terceiro setênio (dos 14 aos 21 anos) o jovem que, em tese, atravessou as demais fases sendo apresentado a um mundo bom (primeiro setênio) e a um mundo belo (segundo setênio) poderia agora explorar livremente seu ambiente a fim de construir sua própria visão de mundo. Reconhecer em si as bases e valores herdados que lhe são caros, com os quais se identifica e que tomou por uso capião, ao mesmo tempo que é novamente desperto para as fantasias que alimenta sobre quem lhe cerca.


Falo sobre na adolescência ser desperto novamente, pois ainda muito pequenos, Melanie Klein e Winnicott- discordando de Freud – nos apresentam a ideia de que ainda bebê nos deparamos com a difícil tarefa de elaboração do Complexo de Édipo. Este pequeno ser, em sua tão necessária onipotência, vai aos poucos sendo desiludido de sua fantasia na qual a mamãe – lê-se qualquer pessoa que esteja ocupando esta posição - é uma extensão de si mesmo e desta forma isenta de outros interesses e papeis que não o dele se ocupar. Se o desenvolvimento ocorrer a contento (aqui caberia um zilhão de aspectos que poderíamos classificar de adequados, a contento), a criança passa a perceber sua mãe como um ser independente dele, possuidora de outros afazeres e que principalmente se relaciona com outras pessoas. Somos apresentados ao sentimento de exclusão e enfim convidados e viver e lidar com o Complexo de Édipo. Na linguagem adolescente “deu ruim pra você bebê” terá que aprender a dividir sua mamãe!


Brincadeiras à parte, este acontecimento na vida de todos nós, é uma das principais bases para que possamos ainda muito cedo sermos capazes de aceitar e lidar as frustrações que a vida toda nos acompanharão. E um ponto importante a se levar em consideração é que, esta é uma fase que para alguns pode ter sido mais ou menos traumático não apenas por influência do ambiente e condições que esta “separação” se deu na vida concreta. Esta transição da dedicação quase que exclusiva da mãe ao seu bebê ainda que tenha ocorrido gradualmente não garante que assim será percebido por ele, além da influência externa o bebê já traz consigo cargas, impulsos mais ou menos amorosos e agressivos. O que reforça a reflexão de que aquilo que percebemos não só está ancorado na realidade externa, mas muito (e eu diria até principalmente) na realidade do mundo interno. Da lente com a qual eu vejo e percebo as coisas ao meu redor.


É na puberdade que o jovem tem suas principais fantasias quebradas, sua capacidade crítica é aguçada e ele comumente sente-se sozinho, descrente, incompreendido e pronto para buscar novos heróis que possam substituir as figuras paternas que agora se mostram falhas, cheias de defeitos. Uma de suas principais tarefas compreende deixar de ser um deles, construir sua própria personalidade, seu conjunto de crenças e valores. Ainda que eu meio a sentimentos de desilusão e desesperança, ter vivido plenamente as fases anteriores com as crenças de que o mundo é bom e belo, proporciona ao jovem bases seguras de que dentro de si existe além de agressão e revolta, também o bom e o belo.


O desabrochar da personalidade é o importante eixo em torno do qual toda a nossa vida se desenrolará. Até então vivemos boa parte dos anos absorvendo do ambiente externo as bases que contribuirão para esta personalidade em construção, é na adolescência que ocorre uma forte inversão e o jovem passa a viver muito mais de dentro pra fora. É necessário que ele encontre espaço físico e psíquico para fincar suas principais bandeiras: Quem eu sou? O que eu quero? E do que eu sou capaz?


Aos pais cabe a difícil tarefa de buscar compreender este momento tão confuso, mas tão rico dos filhos. Afinal de contas nenhum pai ou mãe não reviverá e terá que lidar com as próprias questões adolescentes ao acompanhar a adolescência dos filhos. Dar-lhes espaço o suficiente para se exercitarem, testarem suas teorias ao mesmo tempo que não estejam distantes o bastante para que eles possam recorrer quando necessitarem. Sem dúvida alguma não é tarefa simples, mas nunca foi afinal.


Assim como muitos pais possam sentirem-se frustrados ao não reconhecer mais no filho adolescente a criança outrora idealizada, o jovem também precisará lidar e dar um novo destino às frustrações e desencantos de reconhecer que seus ídolos, não são talvez a mulher maravilha e o super homem ora sonhados, mas homem e mulher falhos que exercitaram na paternidade e maternidade o que tinham como condições para tal.


E a vida deste jovem adulto assim será, desafiado constantemente a reconhecer as limitações do outro, as diferenças e divergências de ideias e visões para que possa fazer, agora de maneira mais independente, suas escolhas e assumir as consequências que dela advirão.


Este belo vídeo de Genifer retrata um pouco do que falamos aqui neste post, sobre escolhas, renúncias e crescimento. Como sempre, lindo

 
 
 

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